sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Marimbondo

Ele foi fundador e mestre de bateria de uma escola chamada Unidos de Vila Rica, fundada por volta de 1966. A informação é colhida da internet e rebatida pelo atual presidente, que diz que Marimbondo nunca fez parte da agremiação.
Essa escola fica na Ladeira dos Tabajaras, uma comunidade de Copacabana, na Zona Sul do Rio.

O sambista Marimbondo, figuraça de Rocha Miranda, juntamente com seu inesquecível parceiro J. Canseira, marcou época no nosso ambiente, na década de 1970.

O único samba conhecido dele, por enquanto, é Erro fotográfico. Mas ele tem muito mais músicas. E quem sabe delas é o radialista Adelzon Alves.

Eis na versão do próprio:


Um outro moço, Marcelo Archanjo, também registrou esse samba. Com ligeira modificação:


Marcelo aprendeu esse samba com o sambista Eduardo Gallotti que, por sua vez, aprendeu com Wilton do Candongueiro, que aprendeu diretamente com o Marimbondo.


Marimbondo faleceu há cerca de 25 anos e não consegui nenhuma informação detalhada sobre ele. Ainda.
A busca continua!

domingo, 2 de dezembro de 2012

Noel e a polêmica

Não a do Wilson Baptista. Uma outra aí.

Há uns 3 anos o grupo Um Bom Partido tocava ali no Bar do Noel todo sábado. Com exceção de dias chuvosos. Por ideia do primeiro dono, Seu Edson, que enfrentou o medo e arriscou. Muito bem arriscado, por sinal.

Se o samba fosse dentro do estabelecimento, o bar deveria ter tratamento acústico, para o som não incomodar os vizinhos. Como o samba é feito na rua, entra em ação o poder público (Estado). Seria necessário solicitar para a Floram (órgão municipal do meio ambiente) uma autorização para fazer o som. Só que essa autorização tem que ser feita toda vez que for feito um evento. E segundo funcionários da Prefeitura, uma semana dessas a Prefeitura ia se invocar e não ia autorizar. Ou a partir da primeira reclamação de vizinhos. A legislação municipal não prevê eventos frequentes na rua.

Próximo do Bar do Noel existem uns 3 condomínios. 1 deles em especial é o responsável pelas reclamações mais contundentes: barulho, mendigos, usuários de drogas, mijadores de calçadas, insegurança (subjetivo, mas entendível). E não, o hotel em frente não fechou por conta da reclamações dos clientes.

Bar do Noel e ao fundo um dos edifícios importunados com a cultura brasileira.
Foto: Google Street.

Pois bem. Esse lado do Centro da cidade, abandonado pelo Estado, é chamado de Centro Histórico, porque tudo que é antigo tem que ser velho, mal feito, ter o aspecto de sujo e underground. Esse Centro Histórico, por ser abandonado pelo Estado, acaba atraindo, naturalmente, a escória da sociedade. Desde que eu me entendo por gente que o Bar do Seu Milton, o Bar do Noel (antigo Petit), a Travessa Ratclif e a João Pinto em geral, é um lugar underground, frequentado por emos, roqueiros, viciados, jornalistas, músicos, boêmios, comunistas, mas também pessoas 'de bem', como secretários, vereadores, escritores, advogados, etc. Tudo depende do dia, horário e época. As fotos expostas na parede do Noel provam o que eu digo. Desde que eu fui naquela região a primeira vez, que eu só vejo a escória. Talvez pelos horários que eu vou: na entre-safra do sol.

Ou seja: não é o samba que atrai barulho, mendigos, usuários de drogas, mijadores de calçadas, insegurança. Pelo meu relato (e se não quer acreditar em mim, pergunte a outros frequentadores), isso sempre existiu. O que atrai isso tudo é a inobservância do Estado.

O zoneamento daquela região, estabelecido pelo Estado, permite que se tenha estabelecimento comercial, como um bar, por exemplo. Também permite som, com um limite de tolerância, naturalmente.

A presença do samba todo sábado ali, não favorece a aumentar o barulho, os mendigos, os usuários de drogas, os mijadores de calçadas e a insegurança. Causa exatamente o inverso. A presença massiva de pessoas inibe os mendigos, usuários de drogas, mijadores, que procuram outra região.


Com cada vez mais pessoas frequentando o samba aos sábados a tarde, mais pessoas frequentam também outros dias e horários e cada vez mais os mendigos, usuários de drogas e mijadores saem da região. E isso é uma bola de neve sem fim. Com isso, sem intervenção do Estado, que deveria intervir, a insegurança também deixa de existir, naturalmente.

Bar do Noel, Um Bom Partido e a Travessa Ratclif protagonizaram várias rodas memoráveis. Essa é uma delas, quando veio um pessoal de Mauá, São Paulo, Uberlândia e Porto Alegre.

Em cerca de 3 anos, eu só vi 1 briga, e foi entre 2 mulheres. Coisa rápida. Nenhuma garrafa foi quebrada.

E o Bar do Noel ainda contratava banheiros químicos todo sábado.
Se mijadores de calçadas não usavam o banheiro não é culpa do dono do bar ou dos músicos. Culpa de uma falta de educação e de cultura do brasileiro.

Outra reclamação dos vizinhos é que pessoas ficavam na Travessa durante a madrugada.
O Bar do Noel fechava as portas meia noite. Horário limite do seu alvará. Se outro estabelecimento ficava até às 2h, 3h, 4h, como eu já vi, o samba de sábado a tarde não tem a mínima culpa.
E no mais, o dono do bar não tem culpa absolutamente nenhuma de que as pessoas permaneçam na rua mesmo com o bar fechado. Fica na rua quem quiser.

Outra reclamação: o barulho (samba), que acontecia aos sábados, das 14h às 18h, religiosamente. Cuidávamos muito com a questão do horário. Os moradores reclamavam que sempre tinha algum morador que só tinha o sábado a tarde para descansar. Mas os frequentadores do samba e os próprios sambistas, só tinham sábado a tarde pra fazer samba. E daí? O coletivo não tem preferência sobre o individual?

Por uma época, o Bar do Noel fazia música ao vivo quase todo dia da semana. Até às 22h. Claro que isso ajudou em muito negativamente. Por conta disso, houve uma reunião no Ministério Público com todas as partes envolvidas: moradores, donos dos bares, prefeitura, polícia, bombeiro, etc. Eu fui convidado pelos donos do Bar do Noel e participei da reunião. Lá ficou acertado que não haveria mais som nos dias da semana e que os moradores iriam tolerar o samba de sábado a tarde. Entre outras questões de alvará, etc.

Ponto!!

Mas isso não aconteceu. As reclamações continuaram, o Bar pecou em outros quesitos e agora (mais uma vez) o samba foi cancelado. Dessa vez pra sempre, até segunda ordem.

Samba no Noel agora só na lembrança e fotos.
Foto: Divulgação

O Estado deveria oferecer segurança para a população. Sob o meu ponto de vista, o Estado não ofertava segurança, o samba sim.
O Estado deveria fomentar a cultura para a população. Sob o meu ponto de vista, o Estado fez exatamente o contrário: retirou uma cultura popular da rua, de graça, ofertado pelo setor privado.

Isso sem falar que o samba não é só a música, mas toda a energia que envolve, todo o clima, a confraternização, a aglutinação de pessoas em prol de um único objetivo: o bem estar.
Ops... a aglutinação de pessoas é justamente o que o Estado não quer. Muitas pessoas juntas, pensando, se divertindo, pode ser perigoso para o Estado e para o sistema.

Vou sentir saudades do Seu Lidinho dançando e convocando todas as mulheres da Travessa pra dançar com ele. Do Carioca pedindo uma saideira com 9 ou 12 músicas. Do Má benzendo todos durante os sambas de roda. Do Candinho cantando as brasas que só ele canta.

Tentei ser o mais didático e explicar todos os detalhes. Caso alguém ainda tenha alguma dúvida, estarei a disposição para mais esclarecimentos.

Feliz Dia Nacional do Samba pra todos!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Couvert artístico 100% pra músico


Essa figura está menor, no canto direito deste blog, desde 2010, mais ou menos.

Coloquei como uma campanha para aprovação do projeto e, posteriormente, divulgação da lei municipal 8.136/2010, daqui de Florianópolis. Lei esta criada a partir do projeto 246/2009, que ainda tramita no Congresso.

Alguém catou essa imagem e agora estão publicando no facebook. Sempre que a vejo, deixo um comentário explicando a origem da figura, a lei de Floripa e o projeto do Congresso.

Acho que é o primeiro grande sucesso, primeira grande utilidade do Cantinho do Nermal. Em quase 7 anos de existência!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Queridos(as) leitores(as)

Aos que visitam este cantinho perdido na internet.

Estou sem atualizar muito o blog. Sei. Mas é por uma boa causa: estou sem tempo.
Tá... não é uma boa causa, mas é verdade.

É que estou escrevendo uma coluna quinzenal para o jornal O Carona, distribuído gratuitamente no terminal de ônibus daqui de Floripa. E que também pode ser visualizado no site do jornal.

Então já perdi duas pautas (das 3 colunas) que viriam para o blog e foram para a coluna.

Mas a coluna tem limites de caracteres e não tem como ouvir músicas ou ver vídeos. Então estou preparando postagens multimídias para cá. Só preciso confirmar algumas informações antes de postar informações erradas. Ou muito erradas.

Queridos amigos que não tem nada mais importante pra fazer na internet e visitam esse humilde espaço virtual, não esqueci de vocês!

Nunca abandonarei o Cantinho!

PS.: Meu amigo Carica, de Uberlândia, lembro de ti a cada dia que passa sem atualizar o blog! És minha motivação!!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O nosso velho e querido Miramar

Um bar quase esquecido, escondido, tímido, mas aconchegante como coração de mãe, perto do ponto final da linha de ônibus Forquilhinhas, é gerenciado por um homem tímido, quase escondido atrás do balcão, mas com um coração de mãe, filho de um comerciante ex-proprietário de um restaurante também quase esquecido de Florianópolis. Maurício Pires é o filho mais novo de Wilson Pires, último dono do Miramar.

Seu Pires, como Maurício é conhecido, guarda com carinho algumas fotos, pinturas, retratos, xerox, uma fita k7 de um documentário feito por alunos da Unisul sobre o Miramar e lembranças. O Miramar mesmo pouco conheceu. Seu pai não o deixava frequentar muito o ambiente. "Só ia no Miramar para pegar toalha de louça, de mesa, pra trazer pra casa pra lavar", lembra. Enquanto seu pai administrava o restaurante, Seu Pires cuidava de uma mercearia, também da família, junto com sua mãe, no morro do Mocotó.

Indenização

O trapiche municipal, onde o Miramar estava localizado desde 1928, foi derrubado para dar vez ao progresso. Com o aterro da Baía Sul, em 1976, não haveria motivo para um trapiche. O restaurante parou de funcionar por uma determinação da Prefeitura, em virtude do aterro. Seu Wilson Pires abriu um processo contra o Estado para receber uma indenização. Pelo menos foi o que disse para o filho, que nunca viu cor, número ou o próprio processo. Passados 37 anos, os possíveis escritórios de advocacia que cuidavam do caso cerraram as portas e o processo não foi encontrado. Nas Varas da Fazenda Pública de Santa Catarina também não consta nada. Seu Pires até desconfia que o processo nunca foi sequer aberto. Seu Wilson não permitia que outra pessoa cuidasse de suas atribuições, por isso Seu Pires não sabe a fundo a esse respeito.

Seu Pires não aparenta fazer muita questão de encontrar o processo. Talvez por não querer se incomodar. A indenização remete a dinheiro, que remete a herança, que remete a briga familiar pelo dinheiro. Na sua timidez e simplicidade, Seu Pires prefere viver sua vida tranquila no seu modesto mas acolhedor boteco; com seus modestos mas honestos clientes; com sua modesta mas aconchegante casa; com sua modesta mas cordial família; vivendo feliz para sempre.

Seu Wilson Pires

Seu Wilson era um homem honesto e bem quisto. Nunca teve muito dinheiro, mas tinha crédito na praça para comprar estoque do seu comércio, carro, etc. Hiperativo, estava sempre trabalhando. Seu Pires, por exemplo, não lembra de ter almoçado com o pai, homem muito sério, enérgico e que não deixava o filho sair muito. "Meu pai não deixava ir à praia. Não aprendi a tomar banho de mar, soltar pipa. Fui aprender a dirigir depois de 18, 19 anos. O máximo que eu ia era ao cinema. O Cine Roxy Clube", recorda sorrindo um sorriso maroto, como se fora o mesmo sorriso feliz de garoto, de agradecimento ao pai por lhe permitir uma diversão em meio a tanto trabalho. Seu Wilson era irrequieto para ajudar todos, mas não era ajudado. Seu Pires puxou o pai nesse sentido. "Eu só tenho recebido paulada na cabeça. Por ser bonzinho, não sei (sic) desabafar, só tenho recebido porrada", lamenta. Seu Wilson sempre foi comerciante. Era dono da Fábrica de Café Mimi, em Capoeiras; do Bar Motorista, na Francisco Tolentino; do Bar Bebe Água, na João Pinto; e teve dois táxis. Trocou os táxis pelo Miramar em 1964. A Família Pacheco, então proprietária do restaurante, quis vender. O dono já estava velho e os filhos não quiseram continuar.

Numa noite de lua cheia de sábado, 26 de julho de 1975, Seu Wilson pede pra Seu Pires terminar de fechar o bar que tinham no Estreito pois sairia, mas logo voltava. Não sem antes comer um ensopado de peixe que a cozinheira havia feito. E comeu como se fosse a última refeição, lembra Seu Pires. Mas Seu Wilson saiu para não mais voltar. Com pensamentos extraconjugais, foi para a Gafieira do Laudelino, na Av. Ivo Silveira, em Capoeiras. Lá, se engraçou com uma moça. Um camarada ficou enciumado com a dança do casal e foi tirar a forra. Sabedores do temperamento brigão de Seu Wilson, os donos da gafieira os puseram para fora para que os senhores pudesses resolver a situação. E foi resolvida. Não se sabe ao certo de que forma. Uns dizem que levou um chute na cabeça, outros que bateu com a cabeça no meio fio. Os meios são incertos, mas o fim não. Nesse meio tempo, Seu Pires fechou o bar e foi para casa e comentou com sua esposa sobre a preocupação com o pai. Duas horas depois recebeu um aviso de que seu pai havia sofrido um acidente. O algoz era um cliente da família.

Seu Pires

Seu Pires é um dono de bar que vende cervejas, cachaças, cigarros, mas não bebe, nem fuma. "Uma vez eu tomei um porre. Era uma bebida doce. Comecei a emborcar, emborcar e fiquei que foi uma pipa (risos). E eu me sinto mal por fazer isso porque sou uma pessoa tímida. E nunca coloquei um cigarro na boca", celebra. Já foi dono de mercearia, dono de bar, taxista, eletricista, catador de papelão, latinha de refrigerante, vendedor de osso de animais e vidro. Foi criado num tempo em que um olhar do pai bastava para transmitir uma informação.

Dia 27 de outubro de 2012, Seu Maurício Pires completou 65 anos de idade.

"Hoje me torno antipático pois censuro a inovação"

"Hoje me torno antipático
Pois censuro a inovação
Partido alto antigo
Batido na mão é muito bom"
(Aniceto do Império)

"Tem muita gente falando em evolução de samba. Não existe! Eu não conheço nenhuma evolução. O que houve foi uma deturpação total da nossa cultura, da nossa maneira de ser. Escola de samba é manifestação popular! E desde o momento que está se afastando cada vez mais de suas raízes, praticamente já estão divorciadas e entrando em um mercado de consumo. E ninguém é saudosista. Ninguém deixou de evoluir. Nós estamos tentando somente preservar a cultura. É pra isso que se propõe a Quilombo." (Candeia)

"Hoje a cultura é o samba. Mudou o nome. Cultura! De vez em quando, quando eles me aperreiam, eu digo: hoje mudou o nome daquilo que vocês faziam antigamente. Metiam o pau na gente. Não era cultura. Era vadiagem, era malandragem. Mas hoje... né?" (Xangô da Mangueira)

"... Inclusive é um samba que eu... Um dos sambas que eu tenho. Até nem sei se é samba. Eu digo que é samba porque tá em moda." (Casquinha)

Eu só assino embaixo deles.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

É doce morrer no mar

Conheci o refrão dessa música em uma piadinha. Não vale a pena contar a piada aqui. Ela é muito sem graça.

Muito tempo depois é que eu fui saber que era uma música. Mais muito tempo depois eu fui saber que era do Dorival Caymmi e que tinha uma continuação.



É doce morrer no mar
(Dorival Caymmi)

É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar

A noite que ele não veio
Foi de tristeza pra mim
Saveiro voltou sozinho
Triste noite foi pra mim

Saveiro partiu de noite
Madrugada não voltou
O marinheiro bonito
Sereia do mar levou

Nas ondas verdes do mar, meu bem
Ele se foi afogar
Fez sua cama de noivo
No colo de Yemanjá

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Dá-lhe, Niquinho!



Em São Paulo, no ponto final do ônibus Jardim Castro Alves, que sai da estação Grajaú, estação final da linha 9 Esmeralda da CPTM, mora Agnaldo Luz, um jovem bandolinista apaixonado pela obra de Amaury Nunes, o Niquinho, um dos grandes bandolinistas que tivemos em nossa música brasileira.

Nascido no Morro de São Carlos, no Estácio de Sá em 11 de agosto de 1928, ganhou o apelido ainda criança, pois vivia pedindo ao seu pai um “niquinho” para comprar guloseimas. Aos 7 anos já manejava o banjo, o cavaquinho, o violão e o bandolim, tocando sempre de ouvido, como de costume antigamente. Aos 14 anos já frequentava todos os programas de calouros, sendo sempre contemplado como vencedor.

Passou a trabalhar como profissional aos 16 anos, na Rádio Tamoio, apadrinhado por Ary Barroso, como executante de viola americana. Algum tempo depois, recebia um contrato da antiga Rádio Clube do Brasil para fazer vários programas da época como “Samba e outras coisas”, “Bazar de novidades”, e outros. Passou também pelas rádio Mayrink Veiga, Vera Cruz, entre outras. Em 1954 o cantor Raul Moreno grava sua primeira composição, obtendo grande sucesso, o samba “Precaução”, em parceria com Hélio Nascimento.

Niquinho tocava com seu regional, do qual participavam músicos pouco conhecidos da mídia, mas respeitados no mundo do choro. Os irmãos Walter e Waldir, hoje umas das referências no choro, começaram a carreira no Regional do Niquinho, em meados da década de 50. Costumava gravar músicas de compositores também não famosos, mas nem por isso de menor qualidade.



Agnaldo possui um acervo muito grande de Niquinho, entre músicas gravadas, inéditas, gravações caseiras, fotos, e até o bandolim que pertenceu ao Niquinho, doado pela ex-esposa, dona Cenira Alves. Ao ouvir o samba canção "Amor quando é amor", de Niquinho e Othon Russo gravado pela Clara Nunes, Agnaldo lacrimeja e murmura: “Queria ter conhecido esse cara”.

Uma das formações do Regional do Niquinho - Niquinho, Zezinho do Pandeiro, Julinho, Walter, Waldir
Niquinho possui quatro álbuns gravados. Três com seu regional e o álbum "Altamiro Carrilho & Niquinho - A flauta de prata e o bandolim de ouro", de 1972, o único solo disponível na internet. Além disso, fez várias participações em álbuns de sambas ou serestas como Carlos José, Silvio Caldas, Candeia, Roberto Ribeiro, sozinho ou com seu Regional. Em algumas das participações com seu Regional, há quem ouça e confunda com o Regional do Canhoto, uma das maiores referências do choro.



Niquinho compôs choros, instrumentais, e também músicas com letras, em parceria, possivelmente fazendo a parte da melodia, gravadas por Clara Nunes, Roberto Carlos e Elis Regina.

Pequenino, tímido, de poucas palavras, de uma educação ímpar e uma humildade e simplicidade sem tamanho, Niquinho faleceu em 19 de agosto de 1994, já doente, vítima de um AVC (acidente vascular cerebral).

Com poucas composições gravadas, 20 contadas até agora, entre choros e sambas, Niquinho tem outras várias músicas compostas, estimada em torno de 50, cuidadas por pessoas como Agnaldo e Cidinho, violonista ainda em atividade e que acompanhou Niquinho por muito tempo. "Só tu pra tocar essas músicas. Ninguém mais toca Niquinho!", diz Cidinho a Agnaldo, comemorando.


Acho que essa é a primeira parte de um programa local do RJ. Não há mais informações no Youtube.



Parte 2


Parte 3


Este programa é completo, de outro dia

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Arrebenta, cavaco!

Há uma teoria de que os músicos de antigamente eram melhores por, entre outras, não errar quando iam gravar no estúdio. Até porque era um custo muito alto para se queimar um vinil com erro.

Com o tempo, a questão era não errar pra se terminar o álbum cada vez mais rápido para se vender mais. De novo, os melhores músicos por, entre outras, não errar em estúdio, estavam lá gravando.

Certa vez o Conjunto A Voz do Morro (Jair do Cavaquinho, Anescar do Salgueiro, Elton Medeiros, Paulinho da Viola e Zé da Cruz) gravou um álbum. Possivelmente um álbum feito completamente sem pretensão, gravado com todos juntos, na brincadeira séria do grupo, transgredindo algumas regras. Ficou registrado, em cada música, a quantidade de tentativas da gravação.



Isso é na década de 1960.

Um pouco depois (1972, pela informação que eu tenho), esse samba "Não posso pisar na areia", do Alvaiade, foi gravado.
Reparem que o cavaquinho entra rasgando no refrão e fica manso nos versos.
Até que...



O que fazer numa hora dessas? Não se pode perder tempo. Queimar matriz em vão. Se apegar a detalhes. Vai do jeito que vai. Sem vaidade.

Depois de ouvir algumas vezes, percebe-se que no refrão anterior ao do acidente, o cavaquinho já está com um som diferente.

E segue o baile.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Facilidade para aquisição de instrumentos musicais

Um projeto que cria linha de crédito especial para aquisição de instrumentos musicais por músicos está parado desde abril na Assembleia Legislativa.

O projeto do deputado Carlos Chiodini (PMDB), apresentado em 14 de fevereiro, está para receber um parecer do deputado Edison Andrino (PMDB) ainda na primeira comissão, das possíveis 2 das quais o projeto deve tramitar antes de ser aprovado.

Segundo informações das assessorias dos deputados, por conta de ser um ano de eleições, o calendário da Assembleia foi alterado e as reuniões da Comissão de Justiça, onde o projeto se encontra, acontecem uma vez por mês. A próxima reunião só deve ocorrer em outubro e não há previsão para o projeto ser apresentado na pauta da Comissão.

Ainda segundo as assessorias, o regimento interno prevê essa alteração no calendário por conta do ano eleitoral. Mesmo sendo eleição municipal.

Segundo o projeto (PL 0028.2/2012), a linha de crédito terá taxas de juros reduzidas e prazos diferenciados, por intermédio de instituições financeiras conveniadas.

Para habilitar-se à linha de crédito, o músico deverá apresentar a nota contratual prevista na Portaria nº 3.347, de 30 de setembro de 1986, do Ministério do Trabalho, acompanhada de declaração da Ordem dos Músicos do Brasil, e comprovante de renda.

Foto: Artur de Bem

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Blogs sobre samba na ilha

Florianópolis não possui muitos sites/blogs específicos sobre o samba local. Praticamente nenhum.
E dos que temos, a maioria fala de carnaval.
Ao longo da história tivemos alguns blogs/sites sobre o tema:
- Batucada (falecido)
- Oh, Carnaval! Oh, Carnaval!
- Carnavalesco SC (falecido)
- Samba na Ilha* (falecido)
- Tamborim (falecido)
- Floripa Ágil
- Samba Floripa (falecido)
- O reino que um dia sonhei
Não lembrei de mais nenhum que tenha existido ou que exista.

Só que muito antes desses, muito antes de muitos dos autores desses blogs pensarem em ouvir um samba, já havia um blog homônimo de um dos listados. O do asterisco. Samba na Ilha, de Edgard Usuy, o japa da cuíca.
Começou em 2001 e a última postagem foi em 2004.

Segue entrevista completa, na íntegra, feita com o autor:

Cantinho do Nermal
Porque parou? Cansou? Tinha outras atividades?

Edgard Usuy
Um pouco de tudo. Muito trabalho, pouco reconhecimento, bastante empenho (risos).
Na real, não era pouco reconhecimento. Na época não tinha rede social. Não sabia se as pessoas conheciam. Não sabia se ele cumpria a função que eu queria, que era a de divulgar o samba. Não sabia se as pessoas o reconheciam como uma fonte de informação. Então desanimei.
Hoje o cara tem "curtir", "compartilhar", "retweetar". Na época, nada (risos). Era tudo muito amador. Mas eu era empolgado (risos).

Era um bom blog. Tinha uma coluna na direita com nomes dos músicos da cidade (modelo que eu copiei e coloquei no meu como "Músicos indicados"), telefone pra contato de quem dava aula, etc.
Na parte principal eu lembro que só via notícias sobre o Wagner Segura. E alguma coisa do Um Bom Partido. Se tinha outras coisas, e devia ter, só ficou na minha memória isso.

Hoje o blog não existe mais e o autor, ainda fanático por samba, segue outra carreira.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Alberto Ribeiro

Alberto Ribeiro da Vinha nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 27 de agosto de 1902. Iniciou sua carreira musical compondo para o bloco de carnaval Só tanga do qual era integrante. O samba Água de coco, em parceria com Antônio Vertulo, de 1923, marcou o início de sua produção editada. Estudou engenharia, mas formou-se em medicina, em 1931, vindo a abraçar o ramo da Homeopatia, porém jamais abandonando a música, sua grande paixão.

No bairro do Estácio conheceu o compositor Bide, com quem logo estabeleceu parceria. Em 1929, criou o Grupo dos enfezados, quarteto do qual faziam parte Mesquita e Sátiro de Melo, no violão, Nelson Boina, no cavaquinho, e o próprio Alberto, como cantor. Com esse grupo gravou dois discos, em 1930, pela gravadora Odeon. Em 1933, lançou As Brabuleta pelo selo Columbia, com interpretação própria. A marchinha Tipo sete, em parceria com Nássara - primeira colocada em um concurso organizado pela Prefeitura do Distrito Federal - foi gravada pela Odeon em 1934, na voz de Francisco Alves.

Com o compositor Braguinha, seu grande parceiro, Alberto Ribeiro compôs, em 1935, Deixa a lua sossegada, gravada por Almirante, Seu Libório, por Vassourinha, Yes! Nós temos bananas e Touradas em Madrid, também por Almirante, em 1938, China pau, por Castro Barbosa, em 1943, e Copacabana, gravada por Dick Farney, em 1946, entre outros grandes sucessos. Em 1945, com a parceria de Radamés Gnattali, compôs o choro Olha bem pra mim e Saudade, vai dizer a ela, samba- canção de 1962.

Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 10 de novembro de 1971.


Fonte: Catálogo de partituras da Petrobás 2005, da Fundação Museu da Imagem e do Som (RJ).


Não há de que
(Bide / Alberto Ribeiro)
Gravação de Tuco no cd 'Peso é peso'

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Neném Cotó

Provavelmente você já deve ter visto essa foto.


Sempre fiquei intrigado com ela. Quem são? Onde é isso? O que estariam tocando? Como será o som que eles estão tirando? Que roda é essa? O que pensa o senhor que passa ao lado vendo esse bando de gente velha, mal arrumada, um deles sem um braço, com instrumentos velhos? O que pensam eles?

Pois a foto é de Ricardo Beliel, tirada na tendinha do Neném Cotó, no Buraco Quente da Mangueira, nos anos 90, para a revista Manchete.
Na ordem, da esquerda para a direita: Seu Gasolina; Aluísio Dias no violão;  Zé Rock, cujo o filho diretor de bateria foi assassinado; Bira; Mestre Tinguinha no tantã; e Neném Cotó no pandeiro.
Ricardo Beliel juntou essa equipe especialmente para a foto. Mas segundo relatos, esse encontros eram frequentes.

Neném Cotó foi eternizado num samba de Jurandir e Ratinho, "Folha de zinco".
"Passei na tendinha do Neném Cotó
Tomei umas e outras pra esquentar"
Foi goleiro do Floresta de Mangueira, batuqueiro do Mestre Waldimiro - mesmo com um braço só tocava caixa -, e diretor de bateria da Estação Primeira.
Era uma pessoa animada, engraçada e que sempre recebia as pessoas com muita satisfação.
Na sua tendinha, que também funcionava como uma boca, havia muito samba bom, muita droga e muita arma.
E saiu da vida pra entrar pra história no fim dos anos 90, assassinado na linha do trem, em frente à estação de Mangueira.

Sentados: Seu Gasolina, Aluísio Dias, Zé Rock, Bira, Mestre Tinguinha.
Em pé: Não identificado, Não identificado, Neném Cotó.

Colaboração: Onésio Meirelles (via Marcelo Baseado) e Ricardo Beliel
Fotos: Ricardo Beliel

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Pega o Lenço e Vai - 2013

Estamos dando inicio ao processo de construção coletiva para o Carnaval do BLOCO Pega o Lenço e Vai - 2013.

Neste ano estaremos trazendo como tema para o nosso cortejo carnavalesco a biografia do Poeta e Libertador de Escravo Luís Gama.

Nossa proposta terá início com a formação acerca da historiografia e aspectos de suas contribuições no período Imperial nos processos anteriores ao da abolição da escravatura no Brasil.

Teremos como mediador nesta formação o Cientista Social Felipe Oliveira Campos (“Choco”), Pós - Graduando em “Especialização em Ciências Sociais – Economia – Mundo, Arte e Sociedade” pela Fundação Santo André – SP.

Data: 29/09/2012 (Sábado)
Horário: às 16h.
Local: Centro Cultural Dona Leonor Endereço: Rua San Juan 121, Parque das Américas – Mauá – SP. 

Resumo histórico: Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu em Salvador em 21 de junho de 1830. Filho de um fidalgo português (nome jamais revelado por ele) e de Luísa Mahin (Uma das lideranças da Revolta dos Malês, 1935). Foi jornalista, escritor e advogado. Após a revolta em 1835, no qual sua mãe acabou sendo deportada para o Rio de Janeiro após perseguição. Dessa forma, aos 10 anos o pequeno Luís fora vendido como escravo. Luís Gama teve uma atuação marcante na literatura brasileira com suas poesias e com suas contribuições ideológicas nos veículos de imprensa. Porém, sua atuação marcante foi enquanto advogado, pois advogava em prol da libertação de escravos. Luís Gama formulou alguns pensamentos que ilustram suas ideias como:

"O escravo que mata o seu senhor pratica um ato de legítima defesa."

"Em nós, até a cor é um defeito. Um imperdoável mal de nascença, o estigma de um crime. Mas nossos críticos se esquecem de que essa cor é a origem da riqueza de milhares de ladrões que nos insultam; que essa cor convencional da escravidão, tão semelhante à da terra, abriga sob sua superfície escura, vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade." Luís Gama (1830 - 1882)

domingo, 12 de agosto de 2012

Viva Osmar do Cavaco!

Minha homenagem a um dos maiores centristas do mundo: Osmar Procópio, o Osmar do Cavaco!

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Fiscal do salão

Em homenagem a Euclides João dos Santos, o Seu Bigode (ou Vô Kido, para os íntimos), pai do Seu Mário César, da Velha Guarda da Copa Lord.
Seu Bigode era o fiscal do salão da sede da Copa Lord, nos seus bailes e soirees. Um negro alto, com um bigode grande no meio da cara. Negro que impunha respeito, não só pelo seu tamanho, mas pelas suas ações, sempre buscando o correto. Respeitado no morro e mais ainda no salão. Ninguém se arriscava a fazer bobagem na presença do Seu Bigode.

Era a função dele, o fiscal do salão. Não podia passar a mão, beijar, etc. Todos tinham que estar de calça, sapatos. Qualquer entrave, desavença ou imprevisto era resolvido pelo fiscal.

Retrato: Schneider, 1989.

Antigamente, as pessoas pagavam para entrar nos salões e pagavam, também, para dançar. Findada a música, findada a dança.
Alguns bailes havia o sistema de fichas. Outros de tantas músicas por cifra. Seja qual fosse o esquema, tinha que pagar para se dançar com as moças. E as moças ficavam com parte desse valor. A outra parte era da casa. Não eram prostitutas, mas funcionárias da casa. Específicas para dançar com os clientes. Algumas casas até poderiam ter prostitutas no meio, mas não necessariamente.

Lupicínio Rodrigues contou que tocava num cabaré com um amigo e levavam as namoradas. Mas o dono do cabaré exigia que eles permitissem que elas dançassem com os clientes. Daí surgiu "Quem há de dizer".

Quem há de dizer
(Lupicínio Rodrigues)

Quem há de dizer que quem vocês estão vendo
Naquela mesa bebendo é o meu querido amor
Reparem bem que toda vez que ela fala
Ilumina mais a sala do que a luz do refletor

O cabaré se inflama quando ela dança
E com a mesma esperança todos lhe põem o olhar
E eu, dono, aqui no meu abandono
Espero louco de sono o cabaré terminar

"Rapaz, leva esta mulher contigo"
Disse uma vez um amigo quando nos viu conversar
Vocês se amam e o amor deve ser sagrado
O resto deixa de lado vai construir o teu lar

Palavra
Quase aceitei o conselho
O mundo, este grande espelho
Que me fez pensar assim
Ela nasceu
Com o destino da lua
Pra todos que andam na rua
Não vai viver só pra mim


Muitos foram os casos como esse.
Rapazes dançando com a moça e no fim do baile ela vai ao encontro do seu "dono", esposo, namorado, que a aguardava numa mesa bebendo, quase dormindo, ou até mesmo dormindo.

Os rapazes pagavam não só pela dança, mas por um flerte.
Dançavam com a expectativa de que elas fossem se apaixonar. E era função delas alimentar essa expectativa. "Quem sabe na próxima música". "Logo agora que eu ia te dar um beijo, acabou a música". "Pode ser". "Você é bonito, mas acabaram suas fichas". E por aí vai.

É plausível imaginar que algumas moças não queriam dançar com certos rapazes.
E isso foi mostrado no samba "Quem é o dono do baile?".


Quem é o dono do baile?
(Cristovão de Alencar / Alcebíades Nogueira)

Porque é que aquela dama
Está só me recusando?
Toda vez que eu a convido
Com outro ela sai dançando
Quem é o dono do baile
Ou o fiscal do salão?
Não há ninguém que se cale
Na minha situação

Três vezes fui recusado
Pela dama de amarelo
Estou sendo humilhado
Mas não sou polichinelo

Como moço cavalheiro
Eu paguei para entrar
Ou devolve meu dinheiro
Ou ela tem que dançar


É mais possível ainda imaginar o motivo.
Eis a resposta da moça para o fiscal do salão:


Ele não sabe dançar
(Cristovão de Alencar / Alcebíades Nogueira)

Não é bem isso
Esse rapaz está louco
Não quero dançar com ele
Mas não é fazendo pouco
Ele pagou para entrar
É com razão que reclama
Mas pagou para dançar
E não para pisar a dama

Gosto de cair nos braços
De um moreno frajola
Que sabe fazer com a dama
O que um craque faz com a bola

A cigana enganou
Que ele sabe dançar
Bem sei que ele pagou
Mas não foi pra me pisar

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Samba de 3 palavras

Samba de apenas 3 palavras: "Império", "Serrano" e "chegou", mas com uma melodia empolgante e animadora.

Gravação de Carmem Silvana


Chegou o Império
(Mestre Fuleiro / Rubinho)

Chegou o Império
O Império chegou

Ô ô ô ô ô
O Império Serrano chegou

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Depoimentos para Posteridade - Dona Uda

Dona Uda Gonzaga, ex-esposa de Armandino Gonzaga, um dos maiores presidentes que a Copa Lord já teve, e filha de uma das primeiras moradoras do Morro da Caixa em seu depoimento.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Depoimentos para Posteridade - Bira Pernilongo

Bira Pernilongo fala um pouco sobre o início de sua carreira.

Samba de terreiro em Floripa (2)

Mais um videozinho...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Não quero mais amar a ninguém

Carlos Moreira de Castro, o Carlos Cachaça, certa vez, fez isso:

Não quero mais amar a ninguém
Não fui feliz
O destino não quis meu primeiro amor
Morreu como a flor ainda em botão
Deixando saudades que dilaceram o meu coração

Cartola ouviu e colocou uma segunda:

Semente de amor sei que sou desde nascença
Mas sem ter brilho e fulgor eis minha sentença
Jurei pela primeira fez um sonho vibrar
Foi beijo que nasceu e morreu sem se chegar a dar


Às vezes dou gargalhada ao lembrar do passado
Nunca pensei em amor, nunca amei nem fui amado
Se julgas que estou mentindo, jurar sou capaz
Foi simples sonho que passou e nada mais



A Mangueira desfilou com este samba em 1936.

Após o carnaval, o Zé da Zilda procurou o Carlos Cachaça com uma proposta de gravação e pediu pra ele assinar uma autorização. Carlos Cachaça ponderou que o Cartola também era autor do samba e devia ser consultado. Zé concordou.

De posse da autorização assinada pelo Carlos Cachaça, ele escreveu uma segunda parte



O que dou preferência hoje em dia
É viver com bastante alegria
E o sorriso que esperava esconder
Saudade que me faz sofrer

e registrou o samba no nome dele e do Carlos Cachaça. Aracy de Almeida gravou este samba em 09/09/1936, e no selo saiu "Não quero mais" (José Gonçalves/Carlos Moreira da Silva). Erraram o nome do Carlos Cachaça. Quando o Cartola soube da gravação foi falar com o Carlos Cachaça que explicou a história toda. Cartola não ficou magoado com o Carlos Cachaça, mas nunca mais falou com o Zé da Zilda.

Em 1973 quando o Paulinho da Viola gravou o samba com a letra original, a Zilda procurou o Paulinho dizendo que tinha direitos, que o Zé era parceiro da música, coisa e tal. O Cartola assinou uma cessão de direitos pra Zilda e nunca mais falou com ela também.

Hoje o Zé consta como autor do samba, mas não tem uma vírgula da autoria dele na letra com que o samba é cantado.
Não significa que o Zé seja encrenqueiro ou "comprositor". Zé tem obras belíssimas, inclusive em parceria com a Zilda, sua esposa.

Colaborou: Barão do Pandeiro

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Que baixo!

Retirado do Songbook Noel Rosa, de Almir Chediak. Texto de Sérgio Cabral.

Em entrevista cedida ao Diário Carioca (o entrevistador era o grande jornalista da música popular e do carnaval, João Ferreira Gomes, o Jota Efegê), em janeiro de 1936, Noel Rosa contou que Araci de Almeida não queria gravar esta marchinha, destinada a compor o outro lado do disco em que gravaria 'Palpite infeliz'. E explicou a razão: "Onde já se viu namorar pulga? E sem saber qual é o macho?"
Noel respondeu dizendo que se ela não queria gravar 'Que baixo!', não gravaria também 'Palpite infeliz'.
Araci de Almeida gravou, é claro.
Primeira gravação lançada em janeiro de 1936, por Araci de Almeida, em discos Victor.

Que baixo!
(Noel Rosa e Nássara)

Você cozinha, racha a lenha e eu não racho
Que baixo!
Que baixo!
Namora pulga sem saber quem é o macho
Que baixo!
Que baixo!
Você me diz que faz a gente de capacho
Mas eu não acho
Mas eu não acho
Planta dinheiro pra nascer dinheiro em cacho
Que grande baixo!
Que grande baixo!
Você cozinha, racha a lenha e eu não racho
Que baixo!
Que baixo!
Namora pulga sem saber quem é o macho
Que baixo!
Que baixo!
Você me diz que toca bem o contrabaixo
Mas eu não acho
Mas eu não acho
Você afina, parte a corda e eu me abaixo
Que grande baixo!
Que grande baixo!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Bom Partido no Varandas agora às sextas!!!

Informações no folder


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Samba de terreiro em Floripa

Eu ia escrever algo sobre. Talvez ainda escreva. Mas estou com outros textos na fila e pode ser que demore.
Por hora, publico umas fotos e vídeos do encontro da cacalhada de São Paulo, Uberlândia e Porto Alegre.

No Bar do Noel


No Varandas



As fotos



 Fotos até aqui: Nalva Photos
As de baixo não sei.



Essa foto é da Nádia

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Núcleos samba de terreiro do Brasil em Floripa neste sábado

Núcleos de pesquisa de todo o Brasil estarão em Florianópolis para uma roda de samba.

Representantes de grupos de Uberlândia (MG), Terra Brasileira (SP), Terreiro de Mauá (Mauá, SP), Glória ao Samba (SP) e Projeto Resgate (Porto Alegre) estarão em Florianópolis neste sábado, 5, para duas apresentações: no Bar do Noel, a partir das 14h, e no Varandas, a partir das 23h.

A programação está confirmada mesmo com chuva! Sem problemas!


Todas as duas apresentações serão junto com o grupo Um Bom Partido, que já se apresenta nesses locais, e será o anfitrião do encontro.


No Noel é de graça, como sempre.
No Varandas, a entrada é de apenas R$10. Mulher não paga se entrar até meia noite e há desconto em petiscos e bebidas.

Mais informações: (48) 9969-0311


O que é?

Os grupos Glória ao Samba, Terra Brasileira, @migos do Samba.com (ambos de São Paulo), Terreiro de Mauá (de Mauá, SP), Resgate (de Porto Alegre), a Roda de Samba de Uberlândia (MG) virão para Florianópolis fazer o que fazem em suas cidades: uma roda de samba. Mas dessa vez estarão todos juntos, e em Florianópolis.

O Samba de Terreiro, é considerado por muitos, junto ao Partido-alto, a vertente mais autêntica do Samba. É o Samba que principiava os carnavais antigos, o Samba feito com muita naturalidade pelos sambistas das agremiações. É a confraternização, é a união de sambistas mostrando que o Samba é do povo e este é o povo do Samba.

Quem são?

O Terreiro de Mauá iniciou oficialmente seus trabalhos dia 22 de dezembro de 2002, na cidade de Mauá, no ABC Paulista, com o intuito de criar um núcleo de estudo de sambas antigos feitos nas escolas de samba do Rio de Janeiro.

O Terra Brasileira, com sede atual no Brás, em São Paulo, surgiu em 2005 com o mesmo propósito. Um de seus fundadores era membro do Morro das Pedras, o primeiro, ou mais expressivo, movimento organizado com o mesmo fim, criado em 2000.

O Glória ao Samba possui o mesmo propósito. Também possui entre seus integrantes um dos fundadores do Morro das Pedras.

O @migos do Samba.com não é um grupo musical propriamente dito, mas de organizadores de eventos e incentivadores culturais. O @migos do samba organiza freqüentes rodas de samba e homenagens para figuras que julga importantes.

O Projeto Resgate, de Porto Alegre, surge em 2007 na mesma linhagem de pesquisa e valorização do samba de terreiro, criando um núcleo semelhante no sul do país.

Em Uberlândia, também houve essa preocupação de mostrar o que a Velha Guarda tem. Não houve a mesma preocupação, entretanto, de criar um nome, sendo chamado, para fins de apresentação, como Roda de Samba de Uberlândia.

Esses núcleos de estudo organizaram, em 2011, uma homenagem nacional ao compositor Chico Santana, da Portela. Foram 6 rodas de samba realizadas em Uberlândia, São Paulo (3), Porto Alegre e a última na Portelinha, no Rio de Janeiro, sede da Velha Guarda da Portela, da qual Chico Santana fazia parte. Participaram dessas homenagens pessoas como Monarco; Waldir 59; Tia Surica; Tia Eunice; Áurea Maria; Neide Santana, filha de Chico Santana, todos membros da Velha Guarda da Portela; o escritor João Baptista M. Vargens, autor de um livro sobre Candeia; o jornalista Sérgio Cabral; Marcos Monte, ex-presidente da Portela; entre outras.
No final de 2011, o @migos do samba.com organizou, em São Paulo, uma homenagem a algumas pessoas, entregando Prêmio Paulo da Portela. Lá estavam, de novo, representantes dos movimentos de pesquisa de São Paulo, Uberlândia e Florianópolis.

Junto com esses núcleos, participam frequentemente das manifestações várias outras pessoas que não tem a pretensão, ou tempo, de firmar um compromisso, mas que também pesquisam e auxiliam na manutenção dos nomes sagrados que louvamos.

Além destes grupos, existem outros, espalhados por outros locais do país, como na própria São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro.

Por que o encontro em Florianópolis?

Em 2010, houve uma visita de alguém de Florianópolis para o Projeto Resgate, de Porto Alegre. No mesmo ano, houve uma viagem até São Paulo, para uma roda de samba do Terreiro Grande, também oriundo do Morro das Pedras. Em janeiro, um representante de Floripa foi até Uberlândia para a primeira homenagem a Chico Santana, com pessoas de Floripa, SP, e MG. Depois foi para Porto Alegre, São Paulo (em uma das 3 homenagens) e para Portelinha, no Rio.

Não há como precisar quando começou, mas esse intercâmbio entre todas essas cidades envolvidas acontece comumente e frequentemente há tempos. Uberlândia já foi para Porto Alegre e São Paulo, São Paulo já foi para Porto Alegre e Uberlândia, Porto Alegre já foi para São Paulo e Florianópolis (em 2010, para 3 apresentações).

Esta será a primeira vez que Florianópolis irá receber os núcleos de São Paulo e Uberlândia, junto com Porto Alegre, somando mais de 60 pessoas, para um encontro nacional sem um motivo especial, se não a confraternização entre os amigos, a comunhão de um mesmo ideal: tocar samba.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Confraternização

Walter Rosa. Grande compositor da Portela. Famoso, entre outra coisas, por gostar de gostar de usar um linguajar rebuscado, usando, por vezes, palavras que ele não conhecia.

Não consegui retirar só o trecho específico do Walter Rosa, então vai tudo.
Carlos Monte, que já foi diretor do departamento cultural da Portela nos anos 70 e co-autor do livro "A Velha Guarda da Portela", junto com João Baptista M. Vargens, fala sobre o compositor, sobre a confraternização e outras coisas.



Segue as 3 confraternizações cantadas pelo próprio:

Confraternização
(Walter Rosa)


Envio aqui, musicalmente,
Cartões de boas festas
A todos os poetas e compositores
Espero que estes os encontrem contentes, gozando saúde
E felizes em seus amores
Zinco, lá dos Filhos do Deserto
Prefere sempre estar perto das florestas
Ouvindo os pássaros cantando
Cartola se afasta do morro mas não vai embora
A saudade lhe devora
De Carlos Moreira, Zagaia e Padeirinho
Com este último, com quem conversei bastante
Sobre um assunto interessante com Nonô do Jacarezinho
Ariosto Ventura de tanto dizer:
Vem morar comigo
Se andares direita te darei amor
Se errares te darei só castigo
Ilco, lá do Engenho da Rainha
Uma vez numa tendinha me chamou em particular
Walter Rosa, por Deus quero compor
Com você uma prosa que não relacione o amor

Silas, viga-mestre do Império Serrano
Lá do alto quando abre-se o pano
Aparece a cantar:
És a luz da minha vida para ela
A Serrinha em peso abre a janela
Para ouvir o seu cantor
Candeia, Waldir, Picolino
Manacéa, Alvaiade, Avelino
Monarco e Chatim
Padrões de talento da Portela
Os seus valores não tem fim


Confraternização nº 2
(Walter Rosa)


Renovarei
Votos de estima aos poetas
E compositores já citados
Chegou a vez
Daqueles que ainda não foram lembrados
Que vivem escondidos por aí
Com lindas melodias
Que o povo quer ouvir
Noel e Anescarzinho do Salgueiro
Quando lançaram no terreiro
O samba que o brasileiro vibrou
Chica da Silva do cativeiro zombou
Cícero e Hélio Cabral da Estação Primeira
Diz que a semente do samba quem possui é só Mangueira
Ramon Russo ao passar pelo Império foi um caso sério
Com aquele tal de Timbó
Foi notória a presença de
Osório Diz o que quis no samba tango
E escreveu como ele só, assim redigiu
Dançando me viu e fingiu que não viu
Com aquele cavalheiro ela saiu

Valter Coringa só escreve o fino e bacana
Assim como o grande Cabana
Aidno, Catoni e Evancoé
Este que fez sua transferência pra Portela
Tal qual o Jair da Capela
Hoje com Jorge Bubu e Casquinha defendem Oswaldo Cruz
Aonde a música seduz


Confraternização nº 3
(Walter Rosa)


Parabenizaram-me
Muitos ficaram aborrecidos
Foi aquele 'zum zum zum'
Dentre os que não foram incluídos
Levaram a cópia do original
Da Fraternização nº 1
Ao conhecimento de um jornal
Garanto que não foi nenhum dos valores escondidos
Que existem por aí
Por exemplo o Everaldo que eu conheci

Na residência de Antônio Candeia
Para mim foi um dia feliz
Assim como vivem felizes
Carlinhos Sideral, Velha, Matias e Bidi
Enquanto possuirem o samba na veia
Defenderão a sua Imperatriz
Quem não conhece o talento de Tolito, Geraldo Babão
Zuzuca e Darci, que só faz samba bonito
Mantive um papo sadio com Aurinho da Ilha
Sobre Paulinho da Viola e o seu sucesso 'Sei lá não sei'
Chegou Jorginho dizendo:
Gravei um LP que é só maravilha
Os autores são Pelado, Preto Rico e Leléo
Mostrou-se muito empolgado
Com Martinho de Vila Isabel
Que está com a bola branca
E promete ocupar o trono de Noel


Walter Rosa usa trechos de sambas de alguns compositores, histórias de outros, tudo isso envolto em uma história e uma melodia atraente e singular.

É Walter Rosa registrando a história fazendo história. Metalinguagem total!!

Salve, Walter Rosa!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Um Bom Partido aos sábados no Varandas Bar, na Lagoa



O grupo Um Bom Partido está se apresentando no Varandas Bar, na Av. das Rendeiras, Lagoa da Conceição, todo sábado a partir das 23h.

Até meia noite mulher não paga para entrar!


No repertório, samba de terreiro, samba de roda, partido alto, samba amaxixado, samba canção... Dá pra dançar junto no samba canção, sozinho no samba de terreiro, em grupo no samba de roda. E até pra quem prefere ficar parado só curtindo a música. Tem pra todos os gostos!

A entrada é de apenas R$ 10.

Mais informações pelo telefone 9904-2281.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Tunico da Vila no Bar do Noel

Tunico da Vila, o Tunico Ferreira, filho de Martinho da Vila, estará se apresentando no Bar Canto do Noel neste sábado, dia 14, a partir das 14h. De graça!

É a segunda visita de Tunico ao Bar. Na primeira vez, no fim do ano passado, Tunico veio para acompanhar seu pai num show na UFSC, ouviu falar do bar e procurou os proprietários para uma possível participação no samba de sábado. Negócio fechado! Tunico esteve junto com o grupo Um Bom Partido, com a Travessa Ratclif lotada.

Dessa vez, em nova visita à cidade, renovaram-se os contatos e Tunico estará de novo no Bar do Noel, comendo um peixe, uma feijoada e fazendo samba junto com o grupo Um Bom Partido a céu aberto para quem quiser ouvir.

Foto: Janine Costa

O que? Tunico da Vila
Onde? Bar Canto do Noel, Travessa Ratclif, Centro
Quando? Sábado, 14, às 14h
Quanto? De graça!


Tunico da Vila

Tunico da Vila, o Tunico Ferreira, é percussionista profissional desde 1993. Gravou CDs de vários artistas como Leila Pinheiro, Emilio Santiago, João de Aquino, Luís Carlos da Vila, Jorge Agrião, Gera, Fundo de Quintal, Leci Brandão, Bia Bedran, Dona Ivone Lara, Mpb4 e Jorge Degas, que o levou para gravar na Dinamarca os CDs dos cantores Keld Andersen, Naja Storebjerg e Vini Johansen. Desde 1986 é membro da bateria da escola de samba Unidos de Vila Isabel. Foi também integrante da antiga Rio Jazz Orquestra, do grupo Musical Coeur Samba e por mais de 10 anos acompanhou seu pai, Martinho da Vila, em shows pelo Brasil e pelo mundo.

No final de 2003 lançou seu primeiro CD como cantor, intitulado “TUNICO FERREIRA”, pela gravadora Seven Music, embalado pelo sucesso “Nota de cem”, muito executada nas rádios e em vários programas de TV, obtendo destaque nacional ao apresentar-se no Domingão do Faustão, Hebe Camargo, Almoço com os Artistas, e outros. Esse CD lhe deu o prêmio de Cantor Revelação 2003, dado pelo Jornal das Gravadoras, ligado a Associação Brasileira de Produtores de Disco (Abpd).

Em 2006, pela ZFM RECORDS, Tunico lançou seu segundo CD, intitulado “NA CADÊNCIA DO PARTIDO-ALTO”, produzido por Martinho da Vila, e teve o projeto gráfico assinado por Elifas Andreato. Tunico abre o álbum com o emocionante “Na cadência do partido alto”, onde faz uma bela reverência aos grandes nomes do samba, como ele mesmo versa: “Tive o prazer de ver em minha própria casa, sambas maravilhosos com partideiros de primeira linha...”.

Agora Tunico prepara a gravação do seu DVD “Na Cadência do Partido-Alto”, que será uma viagem pelos ritmos como o samba, maxixe, forró e Semba (Angola), ritmos nos quais ele aprendeu direto na fonte como ele mesmo gosta de falar:

“Aprendi a tocar o verdadeiro semba com o Joãozinho e o Rui lá em Angola, depois fui aperfeiçoando dando canja em Portugal na banda do caboverdeano Tito Paris. O grupo Tabanka Jazz quando veio ao Brasil também me ajudou muito e em Lisboa não foi diferente. Íamos pra todos os lugares onde tinha música ao vivo e o Galeano e Jair me passaram muita coisa. Foi uma bela escola, pois passei muita coisa de samba pra eles e eles me passaram muito de música africana, um verdadeiro intercâmbio entre músicos.”

Tunico já fez shows pelo Brasil e pelo mundo. Já se apresentou em Florianópolis em 2009 e 2011 e agora retorna para mais uma apresentação.

Mais informações: (48) 9117-3803 – Acauã Irê

sexta-feira, 30 de março de 2012

Um Bom Partido no Bar do Noel


Samba é resistência.
Fazer samba é uma diversão, mas não é brincadeira.

Isso é desde os tempos mais primórdios, quando era proibido, quando pessoas eram presas por andarem com um pandeiro embaixo do braço.
O executar um samba num bar não é somente executar um samba num bar. Qualquer pessoa que se digna a executar um samba tem que ter em mente que este ato é um ato de resistência, de enfrentamento a uma cultura que insiste em ser desviada para caminhos estranhos, mas sempre volta a si quando um samba é entoado.

Por isso não posso ser tão flexível quando o assunto é samba. Me sinto obrigado a colocar os pingos nos is e ser radical nas minhas posições. Se me prontifiquei a viver para isso, tenho que entrar de unhas e dentes e evitar que seja deturpado. Enfrentando quem e o que quer que seja. Evitando que, aos poucos, o samba seja desvirtuado para uma coisa qualquer, sem fundamento, sem história, sem emoção.

Ninguém toca samba por tocar. Ao menos, não deveriam. No samba existe um axé, como tem na capoeira, no candomblé, ou qualquer outra manifestação afro. Me arrisco a dizer que existe axé em qualquer manifestação que envolva louvação a alguém já falecido, como costumeiramente acontece no samba. Quando não existe um axé bom, não tem samba bom.

Quando se toca um samba, não se toca um samba simplesmente. Há todo um ritual que envolve uma roda de samba. Porque o samba só é samba quando vem do povo e para o povo. Quando há uma execussão musical do gênero samba em uma casa noturna, no palco, longe do povo, com itens distanciadores, como o ingresso, deixa de ser samba. Passa a ser uma simples execussão musical do gênero samba.

E dentro do ritual da roda de samba, enquanto executamos os sambas, estamos louvando aqueles compositores, alguns já falecidos. Estamos falando de forças extra terrenas. De energias que rondam a roda. O axé.
A cada samba executado de um compositor diferente, ou quando se louva um cantor, ou um instrumentista, o axé é renovado.

E o axé que existe aos sábados no Bar do Noel, na roda do Um Bom Partido, é muito bom.

Digo isso porque frequento o Bar do Noel desde quando é Bar do Noel - não frequentava quando era Bar do Petit -, mesmo quando não tem samba.

Digo isso porque no samba de sábado podem ser encontrados os melhores músicos em suas respectivas áreas, na sua linha de samba.

Digo isso com a propriedade de quem já frequentou praticamente todos os sambas da cidade e esse ser o único lugar que me tira de casa.

Digo isso depois de muito criticar, brigar, elogiar, brigar, discutir. Aprendi que as moças que comandam aquela roda há mais de 3 anos, e comandam o grupo há mais de 13 anos, não vão lá todo sábado pra brincar de fazer samba. Estão lá cantando músicas que ninguém canta em lugar nenhum da cidade. Os músicos idem. Executando gêneros musicais que não se executa em lugar nenhum da cidade. Deixando de marcar outros compromissos, como com a família, para ganhar 50 reais por dia, debaixo de um sol do meio dia, tocando 4 horas, perdendo um dia inteiro que poderiam estar curtindo seus filhos ou produzindo algo para si. Mas estão lá enfrentando tudo e todos. Todos aqueles que não dão bola pro samba e só querem pagode. Aqueles que não dão bola pro samba e só querem mulher ou homem. Aqueles que não dão bola pra manifestação cultural que acontece gratuitamente e pacificamente e que querem fechar o bar. Enfrentando o Estado, que deveria chamar a responsabilidade pra si e ofertar cultura para a população, mas que não faz força nenhuma para ajudar e não mede esforços para tentar fechar o bar e acabar com o samba de todas as formas. Mesmo assim, o samba está lá. Resistindo. Enfrentando. Isso é o samba.

Viva o samba!
Viva o Bar do Noel!
Viva o grupo Um Bom Partido!
Viva a resistência cultural!

terça-feira, 27 de março de 2012

Aula de dança

Começando com algo leve...


Uma fonte diferente...


Um nível mais avançado, tocando e dançando ao mesmo tempo...


A brincadeira...


Salve, Luna! (O último a dançar)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Portela registra a história! De novo!

Em 1973, a Portela não veio bem. Vários problemas durante o desfile. O pior deles foi a bateria, que desandou de forma feia e trágica, e a escola amargurou um quarto lugar.
Eis que Paulinho da Portela aparece com um samba e apresenta na quadra para animar o pessoal para o ano seguinte. Em 1974, a Portela ficaria em segundo.


Seu diretor de bateria
(Paulinho da Viola)

Seu diretor de bateria
Aquilo que eu disser não leve a mal
Agora que chegou a calmaria
Vamos esquecer o vendaval
Reúna nossos batuqueiros
Que eu já peguei meu violão
Pois esse ano a Portela vai sair pra definir
Aquela situação

Quem chorou, chorou
Quem sorriu, sorriu
O nosso destino é lutar
Portela não vai deixar cair
Aquilo que construiu

sexta-feira, 16 de março de 2012

Portela registra a história

Portela também registra a história através de samba!

Em 1952, Portela e Mangueira já haviam desfilado quando, durante o desfile do Império Serrano, caiu um temporal da peste. O Império se manteve firme e forte desfilando. Os jurados não.
Claro que o Império Serrano foi reclamar do fato. E com certa razão.
Resultado: nenhum. A apuração foi cancelada e não houve vencedor.
Quem venceria o carnaval de 1953 seria considerado o super campeão. Deu Portela.

Mas o fato é que a anulação do resultado do desfile acabou em samba. Uma provocação na rima, sem dizer quem seria o responsável pela anulação.
Esse samba foi cantado no esquenta da Portela para o desfile de 1953.


Não foi Portela que anulou
(Maneco)

Não foi Portela
Que anulou
Não foi Mangueira
Também não foi, não senhor
Essa escola, pra vocês é um mistério
Não digo o nome
Deixo isso a seu critério

Ainda uma chance eu vou lhe dar
Essa escola fica perto de Madureira
Saiu representando, em 52
Ana Néri, a corajosa enfermeira

Mais um samba que fala o ano do ocorrido, o enredo, as escolas que não foram responsáveis pela anulação, e, claramente, a escola que anulou o resultado.

Sensacional!!!

quarta-feira, 14 de março de 2012

Mangueira registra a história

A Mangueira também tem fez um registro da história.

A classificação até o sexto lugar e os horários dos desfiles. Em 1967.



Tabela do Samba
(Geraldo Neves)

Em primeiro lugar:
Mangueira, não houve engano
Em segundo lugar:
Império Serrano
Em terceiro lugar:
Salgueiro em sem papel
Em quarto lugar:
Unidos de Vila Isabel
O carnaval é um jogo de sinuca
Em quinto lugar:
Unidos de Lucas
Não esquecendo o nome dela
Em sexto lugar:
A querida Portela

Às 9 horas da noite
Foi que o desfile começou
Somente às 4 horas da manhã
Foi que a Mangueira entrou
Na passarela da avenida
O povo gritava:
'Mangueira querida!'