terça-feira, 25 de outubro de 2011

Saudosismo

Publicado no Song Book sobre Braguinha, de Almir Chediak.

Utilizando todo o charme nostálgico da marcha-rancho, Braguinha rememora o ingênuo encanto dos carnavais de outrora e o compara com a realidade bem diferente dos novos tempos, arrematando filosoficamente: "Então repito a pergunta / que o tempo não respondeu: / o que teria mudado? / o meu carnaval ou eu?...". Saudosismo foi gravado pelo compositor, firme em seus então 75 anos, com o acompanhamento do conjunto Coisas Nossas, em dezembro de 1982.
(Texto de Jairo Severiano)


Saudosismo
(João de Barro)

Onde andará a Colombina
Que o carnaval esqueceu
Com seu olhar de menina
Travessa que Deus lhe deu?

Onde andará a Colombina
Onde andará seu Pierrô?
Sempre à procura de um sonho
Que nunca realizou

Hoje o carnaval está mudado
E o palhaço vai ao baile de "blu-jim"
O Arlequim não muda de bermuda
E a Maria Antonieta nua é o fim

Não há mais lança perfume
Nem serpentinas no ar
Meu carnaval se resume
Em ver a escola passar

Então repito a pergunta
Que o tempo não respondeu
O que teria mudado?
O meu carnaval ou eu?
(grifo meu)



Aos 7'20"

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Precisa-se de jornalista

Precisa-se de jornalista na área cultural, especialista em samba. Quanto mais, melhor.

Mas não basta um qualquer. Mais um. Tem que ser alguém que abraçe a causa. Que entenda a essência do samba.

Há ônus e bônus. Ei-los:

Não necessita de experiência;
Dedicação exclusiva;
Horário: normalmente de noite imendando a madrugada, as vezes de tarde e quase nunca de manhã;
Salário: muito baixo;
Sexo: tanto faz;
Pode fumar e beber. De preferência não beber muito, pra poder lembrar dos fatos que vivenciou;
Sem direito a férias. Mas quase todo dia haverá festa;
Glamour: nenhum. Em vida, terá o reconhecimento dos sambistas. Depois da morte, terá o reconhecimento de 17 pessoas em todo Brasil, por registrar passagens do samba de Florianópolis. Dessas 17, 10 são pesquisadores - classe da qual ninguém da bola -, 4 acadêmicos, 2 antropólogos e 1 avulso que gosta de samba.

Interessados, deixar um comentário.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Diálogo necessário em Floripa

Na verdade, o que falta no diálogo necessário é a última linha. As primeiras quatro já existem.


Tocas há quanto tempo?

Músico respondendo com ar de superioridade, achando que tempo significa alguma coisa: Há 15 anos.

E aprendesse com quem?

Músico respondendo com peito estufado, achando que está arrasando no seu instrumento: Sozinho!

Quer um conselho? Faz uma aula e estuda.

domingo, 16 de outubro de 2011

Uma leve vontade...

Bateu a Ave Maria. Hora de sair do serviço. Uma leve vontade de urinar me toma o corpo. Não fico muito a vontade usando banheiros públicos, ou do serviço, que por ser um órgão público, se torna quase um banheiro público. Como a vontade também não é grande, dá pra aguentar até em casa.

O elevador demora pra chegar. Pudera. São 18h e todos estão querendo ir embora. Até o elevador chegar no 12º andar deve demorar um pouco mesmo.
Eis que chega. Agora, a demora é pra chegar ao térreo. Pudera. São 18h e todos estão querendo ir embora.
O equipamento para em todos os andares. Em cada andar, uma breve saculejada. Sinto saculejar também a minha bexiga. Mas ainda estou no controle.
Térreo. Ainda desço mais um lance de escada para chegar até a calçada. Chove. O barulho da água é um facilitador psicológico para quem quer urinar. Eu quero. Mas não posso agora.

Do serviço até o terminal de ônibus são alguns bons metros. A calçada esburacada da cidade não ajuda em nada quem está com a bexiga cheia. E essas poças d'água estão começando a me incomodar.

Pro meu azar, o meu ônibus acabou de sair. O próximo só em 30 minutos. Ainda chove. O barulho da água no teto faz parecer que a chuva está mais forte, que há mais água caindo. Já estou começando a andar meio curvado, pra não pressionar muito a bexiga. E saber que vou demorar pra chegar em casa não ajuda.
O banheiro do terminal é bem próximo do ponto do meu ônibus. Mas não consigo urinar com tanto barulho, ou com alguém perto de mim, ou sabendo que tem alguém que também está apressado, com vontade, esperando eu acabar. Mesmo assim, arrisquei.

Chego no mictório, vejo aquele latão de ponta a ponta da parede, com água escorrendo, para escoar a urina e servindo como um facilitador psicológico para quem quer urinar. Que sorte, está vazio!
Pois foi só eu encostar no canto, que apareceu um sujeito. Olhei pra trás, dei mais um passinho pro lado, para liberar mais espaço, sendo que havia todo o resto do mictório disponível. O sujeito chega, urina e quando está saindo, quando eu penso que ia ficar sozinho novamente, só eu e o mictório, aparece outra pessoa. Eu começo a ficar encabulado de não ter urinado ainda e continuo na mesma posição, com as duas mãos na região pubiana, olhando pra baixo, parado, aguardando a urina sair. Tão perto e ao mesmo tempo tão longe. A posição, a água rolando, o mictório na minha frente. Tudo propício. A vontade aumenta. A bexiga se prepara para despejar o líquido, o corpo sabe que a urina tem que sair, mas o cérebro não deixa e o corpo trava. Não dá. Não consigo. Chega mais dois. Eu fingo que termino, embora ninguém tenha ouvido um barulho sequer do canto onde eu estava, ou ter escorrido algo mais do que a água do mictório para o ralo. Tenho a impressão de que todos estão rindo de mim por saber que eu não consegui urinar na presença de mais pessoas. Lavo a mão e saio.

Volto para fila do ônibus, mais curvado que antes. A chuva não pára. Minha barriga dói.

Fico imóvel, porque qualquer movimento piora a sensação. Até o ritmo da respiração eu diminuo. Se eu respirar fundo, o pulmão vai ocupar muito espaço dentro de mim e pressionar a bexiga. Então respiro pouco.

Entro no ônibus e consigo um último lugar pra sentar, na cozinha, ao lado da janela, vendo a chuva.
Quando o motorista liga o ônibus, dá a impressão de que ele ligou uma daquelas cadeiras do cinema do Beto Carreiro, que vai pra frente, pra trás, sobe, desce... Corre uma lágrima do meu rosto. Quando o motorista acelera, há um breve alívio, já que as batidas do motor diminuem.
Mas o trajeto até a minha casa demora, já são 19h, chove, a cidade está repleta de carros e as filas aumentam brutalmente. Abro o botão da calça para amenizar a pressão na barriga.
A rua esburacada da cidade não ajuda em nada quem está com a bexiga cheia e o local que eu encontrei no ônibus piora. A parte de trás do ônibus é a que mais balança.

São 19h20 e o motorista está com pressa. Estressado por conta do trânsito, quando há uma brecha ele acelera com tudo. Numa dessa, há uma lombada. Ele a ignora. Minha bexiga não.
Acho que escapou uma gota pela uretra. Mais 2 lágrimas escorrem.

Mas onde eu estava com a cabeça de sentar?? Para amenizar o chacoalhar do ônibus, levanto, mas numa das aceleradas do ônibus, me vem a mente aquelas aulas de física da 5ª série sobre inércia, onde aprendemos que todo corpo tende a se manter parado até que alguma força a faça se mover. O sujeito da minha frente parece ter faltado essa aula, pois numa arrancada do ônibus, o sujeito esbarra em mim e, obviamente, pela Lei de Murphy, na minha barriga, exatamente no balão cheio de urina que eu carrego dentro de mim.
Acho que escapou mais duas gotas pela uretra e meus olhos ficam rasos d'água. No piscar, dois filetes de lágrima riscam meu rosto até a mandíbula. Minha barriga dói mais. Mais pela vontade de urinar do que pelo esbarrão.

Falta pouco pra eu chegar em casa e menos ainda pra eu molhar as calças.
Pensando bem, está chovendo, ninguém ia reparar. Talvez pelo cheiro. Pensando melhor ainda, é preferível não fazer isso.

Ainda chove e a essas alturas eu já estou chorando quando, enfim, chego no meu ponto, corro, na medida do possível, até minha casa, já com a chave do portão na mão, com o corpo bem mais relaxado por estar em no meu ambiente, no meu espaço, o que piora a situação, abro o portão em tempo recorde, entro em casa como se a porta nem existisse, a calça já está totalmente aberta, avisto o vaso sanitário de longe com a tampa abaixada pensando sem um empecilho, mas se nem a porta da casa foi um agente dificultoso, uma tampa não vai atrapalhar minha glória, e com a agilidade de um gato, a urina começa a sair ao mesmo tempo em que a tampa é levantada.

Choro de novo.

Permaneço ali por minutos. As pernas amolecem. O coração dispara. Um sorriso involuntário toma conta do meu rosto. Solto alguns gemidos, também involuntários.
Lentamente, lavo as mãos. Deito na cama.

Acordo feliz e com a cama completamente encharcada, já gotejando no chão.
Nunca acordei sorrindo de um pesadelo.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Minha felicidade

Minha felicidade
(Artur de Bem)

Eu não sei porque incomodo
Quando estou acompanhado
Se é ciúme de mim
Ou de que está ao meu lado


Não posso ter boa conversa
Com uma boa companhia
Logo vem alguém com pressa
Me flertar com hipocrisia

Eu que sempre andei sozinho
E nem sou namorador
Eu estou devagarinho
Só acumulando amor


Eu que sempre fiz o bem
Não quero o mal de ninguém
Não me incomodem mais
Deixa eu conversar em paz

A minha felicidade
É uma coisa tão singela
E pequena e sem alarde
Cabe bem em uma tigela

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O samba veio dos índios!

Pelo menos essa é a teoria de Bernardo Alves, publicado no livro "A pré-história do samba".
Mais informações referentes ao livro podem ser lidas neste link do site Brasileirinho.

Se alguém tiver informações de como comprar o livro, por favor, me avisem!

Acredito que a teoria não pretende negar a influência do negro no samba que ouvimos hoje. Apenas vai mais longe na pesquisa, e talvez no radicalismo.

O samba sofreu diversas alterações. Sempre quando me perguntam "o que é samba?", nunca tenho resposta e conto sempre a mesma historinha: a discussão entre Donga e Ismael Silva, proposta por Sérgio Cabral, que teve “a felicidade de testemunhar (e a infelicidade de não ter gravado)”, sobre o que seria o verdadeiro samba. Cada um deu sua resposta:

DONGA – Ué, o samba é isso há muito tempo: ‘O chefe da polícia/pelo telefone/mandou me avisar/que na Carioca tem uma roleta para se jogar’.
ISMAEL SILVA – Isto é maxixe.
DONGA – Então o que é samba?
ISMAEL SILVA – ‘Se você jurar/que me tem amor/eu posso me regenerar/Mas se é/para fingir mulher/A orgia assim não vou deixar’:
DONGA – Isso não é samba, é marcha.

Tempos depois, Pixinguinha disse que samba não é nem o do Ismael nem o do Donga. Pra ele, samba era do tempo do Hilário Jovino, do João da Mata. Um samba mais rural.

Depois disso, eu me nego a dar uma definição de samba e aceito que ele sofre modificações. Posso não concordar com a maioria das modificações existentes, inclusive eu costumo lamentar, mas aceito, pois a arte é livre e aberta.
O que não aceito é criar algo esquecendo que pra tudo existe uma história anterior àquilo que se pretende criar. E a história do samba é muito mais antiga do que "Pelo telefone", de 1917.

E pra botar mais lenha na fogueira, segue um samba pra confirmar a teoria do Bernardo Alves.




A vida do samba
(Alvaiade / Bibi)

Samba foi uma festa dos índios
Nós o aperfeiçoamos mais
É uma realidade
Quando ele desce do morro
Para viver na cidade

Samba
Tu és muito conhecido no mundo inteiro
Samba
Orgulho dos brasileiros
Foste ao estrangeiro
E alcançaste grande sucesso
Muito nos orgulha o progresso

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Exaltação à Ilha

Aí, Bira Pernilongo, mais uma obra de Floripa!!

Peguei essa música com o pesquisador Velho Bruxo. Os dados são do próprio e do professor Josué Costa, que me escreve:

Meu caro colega Artur, atendendo a seu pedido, posso informar que a música 'EXALTAÇÃO Á ILHA', esta beleza de marcha-rancho, faz parte do 1º Long-play de vinil produzido aqui na Ilha pelo saudoso Luiz Henrique Rosa,, e é de autoria do Coronel Kell, acompanhado pelo excelente Band Show, da Policia Militar do Estado de S.C.

Outros tempos...



Exaltação à Ilha
(Coronel Kell)
Marcha-rancho
LP - Carnaval da Ilha (1981)

Ilha
Majestosa, colossal
Quem te vê
Não esquecerá jamais
Trilhas
No turismo mundial
Brilhas
Com fulgor nos carnavais

Tua Lagoa
Da Conceição
É um encanto
Fascinação

Canasvieiras, recantos do amor
Baías norte-sul
Visão de explendor

Quanta beleza
Ao pôr do sol
Que maravilha
Teu arrebol

Da natureza tens tudo, afinal
Nasceste, com certeza
Pra ser a capital